Não vou contar a história da bailarina delicodoce que terá inspirado esta sobremesa porque é uma seca descomunal e já toda a gente conhece, nem sequer vou tocar na polémica oceânica sobre quem é que copiou primeiro a receita. É isso e defender o gaspacho com “s” ou o gazpacho com “z”, ou se Olivença é nossa ou de vosotros. Who cares? Prefiro trazer para aqui esse monstro sagrado da música pop-reggae que nos anos 90 escreveu um dos mais icónicos hinos sexy-tolos e, sem querer, catapultou esta sobremesa para o olimpo das culinary arts. Juro-vos que isto é verdade: “What you want is a boombastic, romantic, fantastic pavlova’ lova’…”. Oh yeah! E eu concordo. A pavlova, seja lá qual for a versão que se faça, plasmada do cookbook do Masterchef Austrália (ups…) ou pedida emprestada à Vanda que tem aquele café super-cool só com duas mesas na Baixa do Porto, é uma cena absolutamente bombom’bástica, romântica e fantástica. E bastante versátil também; pode-se meter em cima o que bem nos apetecer e nas combinações mais inusitadas. É tipo a pizza das sobremesas. Nunca falha. E, ao contrário da pizza, aceita muito bem o ananás; não é racista! Ontem, por exemplo, decidi fazer uma pavlova finna. À excepção de renas, nabos amarelos, cogumelos, depressões de inverno por falta de vitamina D e bagas (azedas), na Finlândia não há nada que cresça da terra que dê vontade de comer. Decidi-me pelas bagas (azedas). A saber: mustikka (mirtilo), punaherukka (groselha vermelha), puolukka (arando) e mustaherukka (groselha preta). Carreguei no açúcar do creme para balançar a acidez das bagas e achatei a base de meringue para a miscigenação pizza/pavlova ser graficamente mais credível (vou ser crucificado por isto and I couldn’t care less). Hashtag: #cheatedpavlova. Ficou incrível! Acompanhou um aromático Earl Grey, que decidi escolher porque… British colonialism. E agora vou-me calar para que isto não descambe. A røceita:
Aquecer o forno a 180ºC. Bater as claras de 4 ovos grandes até ficarem firmes. Ir adicionando, aos bocadinhos de cada vez, 200 gramas de açúcar em pó, e continuar a bater. Dissolver 2 colheres de chá de amido de milho numa colher de sopa de vinagre de cidra e juntar ao preparado anterior, batendo sempre. E agora a heresia: enfiar a mistura num saco de pasteleiro e fazer uma espiral PERFEITA em cima de uma folha de papel vegetal. Levar ao forno, entretanto reduzido para 140ºC e deixar cozer durante cerca de 45 minutos, ou até ficar crocante, ou até ganhar uma corzita meio beige pálido, ou até ficar com ar de base de pizza (lol). Assim:
No entretanto, bater vigorosamente 250 ml de natas full-fat com 150 gr de açúcar em pó e uma colher de sopa de sumo de limão até ficar motherfucker. Deixar a base de pizza-meringue arrefecer e espalhar o preparado de natas por cima. Assim:
Por fim, espalhar os frutos vermelhos por cima do creme, sem grandes preciosismos estéticos; the shaggier (pun intended!), the better. Seria possível, se calhar até desejável, finalizar com uma xarope de frutos vermelhos, para harmonizar todos os elementos. Não tive paciência para tanto e deixei ficar assim. A bem da verdade, as bagas finlandesas, talvez por serem o único fruto que cresce neste país (and they know it!) são tão deliciosamente incríveis que valem por si e não precisam de aditivos ou cosméticas. Fiquei tão animado com o resultado que até fiz um gif… animado. Ganda lol!
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